Caminhonete de luxo é apreendida em desdobramento de investigação sobre golpes contra produtores rurais no Norte de Minas

Uma caminhonete de alto padrão foi apreendida nesta terça-feira (29), em Montes Claros, durante uma nova etapa da operação que investiga crimes de estelionato e lavagem de dinheiro contra produtores rurais no Norte de Minas Gerais. A ação foi conduzida pela Polícia Civil e integra os desdobramentos de um esquema que já causou prejuízo milionário em municípios da região.

O veículo foi encontrado em um imóvel localizado no bairro Vila Brasília. Segundo o delegado responsável pelo caso, Theles Bustorff, a apreensão é parte de um conjunto de medidas que visam a neutralização do patrimônio obtido de forma ilícita pelos investigados. Além da caminhonete, já haviam sido retidos anteriormente 57 cabeças de gado, maquinário agrícola, documentos contábeis e outros dois veículos de valor elevado.
Golpes em série
As investigações revelam que o grupo criminoso atuava em cidades como Bocaiúva, Buritizeiro e Diamantina. A estimativa da Polícia Civil é que os prejuízos totais ultrapassem R$ 3 milhões.
Conforme a apuração, os suspeitos – três homens com idades entre 54 e 81 anos – iniciaram as fraudes em meados de 2023, logo após adquirirem uma fazenda em Bocaiúva. Eles ganharam a confiança de um produtor influente da região, realizando inicialmente transações legítimas. Com o tempo, passaram a aplicar golpes utilizando o nome desse produtor como avalista, mesmo sem o consentimento dele.
A tática envolvia a emissão de cheques sem fundo para a aquisição de gado. Posteriormente, os animais eram levados para uma fazenda no município de São Francisco e, de lá, enviados a leilões nas regiões de São Paulo e Uberlândia. O dinheiro obtido com as vendas era supostamente “lavado” por meio de uma empresa em nome do terceiro investigado, sediada em Brasília de Minas.
Operação em andamento
Na fase mais recente da operação, foram cumpridos três mandados de busca e apreensão: dois em Brasília de Minas e um em uma propriedade rural em São Francisco. Nesses locais, os policiais encontraram documentos financeiros e contábeis, além de apreenderem munições e levarem para depoimento o idoso de 81 anos, investigado por participação direta no esquema.
No endereço da empresa, que funcionava como fachada, foram recolhidos materiais que reforçam a tese de lavagem de capitais. Os nomes dos investigados não foram divulgados, e até o momento, não foram expedidos mandados de prisão. Conforme explicou o delegado Cezar Salgueiro, da Delegacia de Investigação de Montes Claros, as medidas patrimoniais adotadas foram consideradas mais eficazes nesta fase da apuração.
“A indisponibilidade de bens e apreensão dos ativos muitas vezes é mais impactante para a organização criminosa do que a própria prisão”, avaliou Salgueiro.
Primeira fase identificou 15 vítimas

Na primeira etapa da operação, deflagrada em 10 de julho, a polícia já havia identificado 15 vítimas, com prejuízo acumulado de R$ 953 mil. Os levantamentos também indicaram a emissão de pelo menos 20 cheques sem fundo, com valores entre R$ 5 mil e R$ 154 mil.
O produtor rural cujo nome foi utilizado indevidamente como fiador procurou a delegacia após ser alertado pelas vítimas. Segundo as autoridades, ele chegou a arcar com parte das dívidas para preservar sua imagem na comunidade agrícola.
Com o cerco apertando, os suspeitos abandonaram uma fazenda onde haviam deixado 220 cabeças de gado, tendo pago apenas o sinal pela propriedade. O proprietário do local já havia acionado a Justiça por descumprimento contratual.
A Polícia Civil continua com as investigações e acredita que novas vítimas podem surgir. Produtores que tenham sido lesados pelo grupo são orientados a procurar a delegacia para prestar esclarecimentos.




